- O ex-ator pornô Giuliano Ferreira, 35, se tornou pastor em São Carlos, interior de SP
Uma doença fez o ex-ator pornô Giuliano Ferreira, 35, mudar o rumo de
sua vida. Depois de participar de mais de 300 filmes de entretenimento
adulto, tendo chegado inclusive a ser indicado ao "Oscar do pornô
mundial", ele largou tudo no auge da carreira para, segundo ele,
"atender a um chamado de Deus". Há dez anos, se tornou pastor
evangélico.
Ferreira manteve silêncio desse outro lado de sua
biografia até o mês passado, segundo ele para preservar os filhos e a
família. "Não queria que eles sofressem na escola, com pessoas falando
sobre isso. Então, simplesmente não falei sobre o assunto", conta ele,
que é casado há dez anos e tem dois filhos, um de 18 anos e outro de 19.
"Agora, os dois estão na faculdade, e eu achei que era tempo de contar
minha história."
Resolveu, então, escrever um livro. "Luz,
Câmera, Ação e Transformação" (editora Semeando Esperança, R$ 20), que
pode ser comprado pelo site www.giulianoferreira.loja2.com.br, está prestes a chegar à segunda edição.
"Não me envergonho do que fiz [a carreira pornô], só resolvi deixar
tudo de lado após receber esse chamado", diz. Hoje ele mora em São
Carlos (a 232 km da capital paulista) com a mulher e dois filhos. "Ela
sempre soube o que eu fazia. Por dois anos, vivi com ela trabalhando no
setor pornô", disse.
Coma
A guinada na vida de
Ferreira aconteceu em 2004, em Araraquara (SP), pouco depois de filmar
com Rita Cadillac e Márcia Imperator. Com uma dor de dente, procurou um
especialista. "Tive um canal e fui ao dentista. O dente quebrou enquanto
estava na cadeira e tive de arrancá-lo. A partir dai, houve uma
infecção que se espalhou pelo corpo", explica. "Foi generalizada e tomou
completamente os rins e pulmões. Cheguei a ser desenganado pelos
médicos."
Ficou em coma por cinco dias. Durante esse período,
afirma ter ouvido um chamado de Deus, dizendo que ele deveria parar com a
vida que levava e utilizar seu exemplo para salvar almas. "Ouvi Deus
falando comigo e chorei. Depois, acordei puro. Os médicos não tinham a
menor ideia do que havia acontecido, porque não era para eu ter
acordado. Mas eu acordei e, daquele dia em diante, deixei tudo de lado
para servir ao Senhor."
Ferreira tinha comprado três casas e
tinha um padrão de vida confortável. Mas teve de vender os imóveis para
pagar as multas dos contratos que tinha com empresas do setor
pornográfico – uma brasileira e uma europeia. "Só de multa, foram R$ 80
mil. Também tive de pagar outras dívidas e o que sobrou usei para
comprar um apartamento em São Carlos, onde vivo hoje", conta. "Não me
preocupei com o dinheiro, me preocupei em fazer o que Deus tinha me
dito. Venderia tudo o que tinha, se precisasse", conta.
De office boy a stripper
De origem humilde, Ferreira frequentou a igreja dos sete aos 14 anos.
Parou quando teve que começar a trabalhar, como office boy, em São
Paulo.
Com 18 anos, teve um filho e ficou desempregado. Foi
descoberto por um empresário do setor de entretenimento adulto. "Ele
elogiou meu corpo e disse que eu poderia ganhar um bom dinheiro com ele.
No começo recusei, achando que ele queria fazer um programa, mas depois
ele explicou que era para trabalhar em uma boate de striptease",
contou. "Eu fiquei com medo, mas o que eu ganhava em um fim de semana
valia o mês inteiro de trabalho. Resolvi aceitar", disse.
Em
menos de um ano, passou a ser um dos strippers mais assediados em São
Paulo. Foi para o Rio de Janeiro, participou de um concurso nacional e
conheceu o mundo do pornô. "Acabou sendo natural. Fiz revistas, depois
recebi um convite para fazer um filme", conta. Ferreira utilizava o nome
artístico de Juliano Ferraz, para filmes heterossexuais, e Júlio Vidal,
para produções gays.
O auge de sua carreira aconteceu entre
2002 e 2004. Na época, venceu um prêmio latino americano da categoria e,
em 2002, foi o primeiro brasileiro a ser indicado ao AVN, o Oscar do
pornô mundial.
"Eu nunca almejei isso. Eu queria dinheiro,
comprar uma casa e dar tudo para o meu filho. Nunca achei espetacular.
Automaticamente o cachê aumentou, mas foi por pouco tempo, porque em
2004 eu abandonei a carreira", conta.
Chegou a morar e trabalhar
em Madri, Praga, Budapeste e São Petersburgo. Voltou ao Brasil em 2004,
quando filmou "A Primeira Vez de Rita Cadillac", com ela como
protagonista. Foi quando os problemas de saúde começaram.
'Bruno Surfistinha'
Seu sonho é ver as histórias que relatou no livro tomarem as telonas de
cinema. "Mais ou menos como 'Bruno Surfistinha'", diz, se referindo à
adaptação cinematográfica da biografia da garota de programa Raquel
Pacheco. O filme foi dirigido por Marcus Baldini e estrelado por Deborah
Secco em 2011.
"Minha história mostra que é
possível recomeçar, mesmo quando todas as condições são adversas",
conta. "É uma mensagem que vale para todos, desde drogados a criminosos.
Eu sou um cara que estive na pornografia, já usei drogas e conseguiu
vencer."
O pastor afirma que há uma
glamourização excessiva da vida no mundo pornô. "Falam como se fosse uma
coisa boa. Não é. Há prostituição, drogas, falta de respeito. Não é um
mundo legal", conta.
Há dez anos, frequenta a
igreja Assembleia de Deus. Foi auxiliar, diácono e presbítero antes de
virar pastor, o que ocorreu em 2009.
Hoje, não
ganha salário e vive da venda de seu livro e de outros livros
religiosos. "Eu parei no auge da minha carreira, com 25 anos, e deixei
tudo para atender um chamado. Meu único interesse na igreja é salvar
almas."
Nenhum comentário:
Postar um comentário